As empreiteiras e a Ditadura: um caso antigo de parceria e corrupção

Há muitos anos ouvimos falar em corrupção. Vemos notícias sobre corrupção nos jornais, revistas, em conversas na rua, sobre um prefeito de determinada cidade que desviava dinheiro público, agentes públicos que cobram propina e etc. Quase todos os dias surgem novas denúncias de corrupção.

Com o advento da Operação Lava Jato, parece que o assunto não sai mais da boca da população. Muito se ouviu também que a Lava Jato está revelando o “pior caso de corrupção da história do país”, vemos hoje grandes empresas nacionais, como a Odebrecht e a Camargo Corrêa envolvidas em casos escandalosos de beneficio em licitações e diversos agentes, públicos e privados, todos corrompidos nesse processo.

Tudo isso é realmente assustador e levanta um importante questionamento: qual é a origem da corrupção?

Diante de tantas delações, apontamentos e indiciamentos de supostos corruptos, em um sistema complexo de beneficiamento que, até o exato momento, não teve sua devida conclusão, suscita essa reflexão, que divide opiniões. Em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, em 2014, o historiador Pedro Henrique Pedreira Campos, autor do livro ”Estranhas Catedrais – As Empreiteiras Brasileiras e a Ditadura Civil-Militar” afirmou que essa relação de corrupção entre o Estado e empreiteiras não vem de hoje. Pedro ainda completa dizendo que os capitalistas nacionais, apesar de demonstrarem muito interesse em contribuir para as investigações em casos de corrupção, na realidade nunca tiveram muito problema com ela, sempre fazendo uso de acordo escusos com o Executivo para obter mais lucro.

Campos disse ainda à Folha que a teia de corrupção surge no governo Juscelino Kubistchek, mas que chega ao ápice com o golpe militar de 1964: “Durante a ditadura, elas tiveram acesso direto ao Estado, sem mediações, sem eleições. Havia um cenário ideal para o seu desenvolvimento: a ampla reforma econômica aumentou recursos públicos disponíveis para investimentos e mecanismos legais restringiram gastos para a saúde e educação e direcionaram essas verbas para obras públicas, apropriadas pelas empreiteiras – grandes projetos, tocados sob a justificativa do desenvolvimento nacional, como a Transamazônica, a usina de Itaipu e a ponte Rio-Niterói”. A relação entre capitalistas e militares era tão próxima, que em muitos conselhos e diretorias dessas empresas, havia sempre um militar para cuidar dos interesses do Estado e permitir que todo acordo escuso fosse realizado sem nenhum problema. O general Golbery do Couto e Silva, por exemplo, chegou a presidir a Dow Chemical, assim como o general Figueiredo, que integrou o conselho consultivo da Caterpillar e o general Arthur Moura, que atuou ativamente na Mendes Júnior.

A Odebrecht por exemplo, que teve os ex-executivos Marcelo Odebretcht, Fábio Gandolfo e Henrique Pessoa Mendes Neto enquadrados na operação da Polícia Federal, foi uma das grandes beneficiadas durante a ditadura militar, chegando a triplicar o seu faturamento em apenas 1 ano.

E apesar do senso comum que ouvimos muito por aí, até nos dias atuais, de que “no tempo da ditadura não havia corrupção”, cada vez mais estamos descobrindo uma verdade cruel: que toda corrupção hoje apontada já é uma prática enraizada, um fenômeno histórico no país.

Casos citados aqui como a construção da usina de Itaipu ou mesmo a ponte Rio-Niterói são os mais marcantes e que conseguiram ressurgir dos porões da ditadura, como casos emblemáticos de corrupção em licitações entre grandes empreiteiras e o governo militar. Mas ainda há ainda muito a apurar nessas obras realizadas por essas grandes empresas, para descobrir de uma vez por todas, qual é a origem dos seus esquemas de corrupção.

Para isso, listamos algumas das mais importantes obras do país que ocorreram entre 1965 e 1988, promovidas por essas empreiteiras, que podem ter sido fruto de beneficiamento do Estado Brasileiro à essas empresas que hoje são, sistematicamente, citadas na operação Lava Jato.

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