Mulheres Brasileiras Apagadas pela História

O mês de março já está acabando, mas sendo o mês da mulher, sua passagem deixa uma importante reflexão sobre o lugar da mulher na sociedade, os avanços na luta por igualdade de direitos e uma grande esperança por mais conquistas que ainda precisam acontecer.

É certo que nos últimos anos, vivenciamos o recrudescimento do feminismo no país. Podemos ver que assuntos antes escondidos debaixo do tapete da moralidade, no que diz respeito às mulheres, passaram a ser discutidos abertamente nas escolas, no ambiente de trabalho, na mídia… Todo esse movimento é de extrema importância, pois além da difusão de conhecimento sobre as mulheres, estamos passando também a celebrar a vida e obra de grandes mulheres brasileiras que, devido ao machismo, foram completamente ignoradas nos livros de história e nas salas de aula.  A história desse país também foi construída por importantes mulheres. É impossível citar todas de uma vez, mas segue a relação de algumas dessas grandes mulheres, que merecem ter seus nomes lembrados e homenageados:

 

dandara

Dandara

Dandara (?-1694)

Ex-escrava, uma das grandes personagens do Quilombo dos Palmares, juntamente ao seu marido, Zumbi. Lutou com armas pela libertação de negros e negras e contra a invasão holandesa em Pernambuco, por volta de 1630. Ao ser capturada, Dandara recusou-se a ser presa e tornada escrava novamente e atirou-se de um penhasco. Passou muitos anos apaga pela sombra do marido, mas recentemente passou a ser celebrada, principalmente pelo movimento feminista negro.

 

 

dinalva

Dinalva Oliveira Teixeira

Dinalva Oliveira Teixeira (1945 – 1974)

Foi uma das guerrilheiras do Araguaia durante a ditadura no Brasil. Atuava na comunidade local como professora e parteira. É considerada como uma das grandes guerrilheiras da época, muito combativa e, por isso, era muito citada entre os militares, que ansiavam pela sua captura. Quando finalmente aconteceu, em 1974, Dinalva foi capturada e torturada por dias, afim de revelar informações sobre outros guerrilheiros, mas ela se recusou. Depois foi levada a uma mata e, ao perceber que seria executada, solicitou que fosse morta de frente, olhando para o seu executor. Seu corpo nunca foi encontrado.

ESMERALDINA CARVALHO CUNHA

Esmeraldina Carvalho Cunha

Esmeraldina Carvalho Cunha (1922-1972)

Atuou contra a ditadura no Brasil, denunciando os crimes de tortura que suas filhas, Leônia e Lucia sofreram, por serem integrantes de movimentos de resistência à ditadura. Vítima dos traumas da tortura, Leônia acabou morrendo poucos meses após ser solta pelos militares. Esmeraldina então transformou sua dor em luta e passou a enfrentar os militares que haviam matado sua filha e bradar pelas ruas contra os militares. Foi encontrada morta em 1972, pendurada por um fio de telefone pelo pescoço. Apesar da alegação da polícia local quanto o motivo da morte ter sido suicídio, muitos acreditam que sua morte foi causada por vingança pelos militares.

 

 

Francisca de Sande

Francisca de Sande

 

Francisca de Sande (?-1702)

Considerada a primeira enfermeira do Brasil, atuou em Salvador na grande epidemia de febre amarela que assolou a capital baiana em 1608. Enquanto toda elite local fugia, Francisca abrigou os doentes em sua casa, que foi transformada em um hospital improvisado. Gastou todas as suas economias para salvar os doentes.

 

Ingaí (?-1535)

Ingaí era índia, da etnia Caeté, nascida em Pernambuco. Lutou contra os portugueses, com sua tribo, durante a invasão do donatário português Duarte Coelho, em 1535. Chegou a ser feita prisioneira pelos portugueses, que tentaram estuprá-la, mas era resistiu ao ataque e conseguiu fugir para a mata e suicidou-se logo em seguida.

Lélia Gonzalez

Lélia Gonzalez

Lélia Gonzalez (1935-1994)

Feminista e ativista política, nasceu em Minas Gerais, mas mudou-se para o Rio de Janeiro para prosseguir com os estudos. Formou-se em história e filosofia, fez mestrado em comunicação social e doutorado em antropologia social em São Paulo. Dedicou sua vida acadêmica a pesquisas sobre gênero e etnia. Foi militante do Movimento Negro Unificado (MNU), do Instituto de Pesquisas das Culturas Negras (IPCN) e do Coletivo de Mulheres Negras N’Zinga. Atuou diretamente na política e também foi uma das fundadoras do grupo Olodum.

 

 

Leolinda de Figueiredo Daltro

Leolinda de Figueiredo Daltro

Leolinda de Figueiredo Daltro (1860-1935)

Lutou pelos índios e as mulheres, acreditava que a educação podia transformar a vida das pessoas para melhor e percorreu todo o país, das capitais ao interior, em um ambicioso projeto de alfabetização, principalmente para índios. Foi diretora da escola Orsina da Fonseca e lutou pelo voto feminino e emancipação da mulher e, por isso, sofreu perseguições.

maria leopoldina

Maria Leopoldina

 

Maria Leopoldina (1797-1826)

Arquiduquesa da Áustria e Imperatriz Consorte do Brasil. Em agosto de 1822, D. Pedro I teve de deixar o Brasil e nomeou Maria Leopoldina Princesa Regente Interina do Brasil, para cuidar do país em sua ausência, o que culminou na participação ativa dela para a independência do Brasil.

 

 

maria rita soares

Maria Rita Soares de Andrade

 

Maria Rita Soares de Andrade (1904-1998)

Primeira juíza federal do Brasil e feminista. Também dedicou seu trabalho como advogada pelos direitos humanos, defendendo presos políticos. Também foi a primeira mulher a integrar o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil.

 

Mariana Crioula (séc. XIX)

Escrava, foi líder da fuga da fazenda Maravilha, no Vale da Paraíba (RJ), juntamente com Manuel Congo. Congo iniciou a fuga, chegando a organizar uma grande leva de fugitivos das fazendas vizinhas. Mariana, ao se juntar aos escravos que fugiam, tomou a liderança junto com Congo e enfrentaram os soldados da Guarda Nacional e Mariana foi a mais valente, se colocando a frente deles para defender os demais.

nicolina de Assis

Nicolina de Assis

Nicolina de Assis (1874-1941)

Nicolina se descobriu escultora desde a infância. Nascida em Campinas, casou-se muito jovem, aos 16 anos e pouco tempo depois ficou viúva, tendo de usar seu talento para esculpir estátuas e túmulos para sustentar os filhos. Ganhou uma bolsa para estudar na Escola de Belas-Artes no Rio de Janeiro em 1887 e produziu muitas obras que foram expostas lá, até que recebeu uma menção honrosa em 1901. Três anos depois, conseguiu uma bolsa do governo paulista para estudar na França, mas bolsas de estudos para o exterior, nessa época, só eram concedidas aos homens. O assunto foi parar no Congresso, que decidiu a favor de Nicolina. Após os estudos, voltou ao Brasil e produziu muitas obras públicas e ganhou diversos prêmios.

 

 

 

Nise da Silveira (1905-1999)

nise da silveira

Nise da Silveira

Médica psiquiatra, nasceu em Alagoas, mas viveu no Rio de Janeiro. Formou-se na Faculdade de Medicina da Bahia, em 1931, sendo a única mulher de sua turma, além de ter sido uma das primeiras mulheres no país a se formar em medicina. Atuou no setor de terapia ocupacional no Centro Psiquiátrico Engenho de Dentro em 1944, no Rio de Janeiro. Nise desenvolveu uma pesquisa com os seus pacientes, apenas oferecendo um tratamento humanizado e concedendo a eles, atividades artísticas e de interação, para observar o comportamento que apresentavam. Através dessa pesquisa, seus pacientes demonstraram muito talento para as artes plásticas, dessa forma, Nise resolveu fundar o Museu de Imagens do Inconsciente, para expor o trabalho de pacientes com esquizofrenia. Por toda riqueza de sua pesquisa e observação, Nise acabou indo estudar com Carl Jung, onde conseguiu desenvolver ainda mais sua abordagem com os pacientes. Ganhou diversos prêmios e homenagens no Brasil e no exterior, publicou diversas obras e atuou como militante no Partido Comunista do Brasil.

nhanha couto

Nhanhá do Couto

 

Nhanhá do Couto (1880-1945)

Musicista e promotora cultural. Nascida em Ouro Preto (MG) e filha de um maestro local, casou-se muito cedo e se mudou para Goiás Velho, no interior de Goiás. Lá, iniciou um projeto de formação de músicos e criou a primeira orquestra da cidade. Compôs diversas musicas e fundou a primeira orquestra feminina do Brasil.

 

 

 

Orsina da Fonseca (1859-1912)

Primeira-dama do Brasil, casada com o ex-presidente Hermes da Fonseca. Nasceu em Alagoas e era filha do coronel do exército e ex governador de Alagoas, Pedro Paulino da Fonseca. Em seu trabalho como primeira-dama, Orsina atuou com meninas pobres e órfãs, prestando todo o auxílio necessário. Foi amiga da feminista Leolinda de Figueiredo Daltro, com quem promoveu diversos projetos de emancipação e desenvolvimento de mulheres carentes, além da oferta de educação para às jovens. Também fundou o orfanato Osório. Morreu muito jovem, aos 53 anos e, em sua homenagem, Hermes da Fonseca incluíu no nome do Instituto Profissional Feminino o seu nome, tornando-se Instituto Orsina da Fonseca.

Zilda Arns

Zilda Arns Neumann

Zilda Arns Neumann (1934-2010)

Zilda foi fundadora da Pastoral da Criança e da Pastoral da Pessoa Idosa, ligadas à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Formou-se em medicina na UFPR e depois especializou-se em pediatria e sanitarismo. Acreditava na prevenção e no desenvolvimento social para combater doenças graves e epidemias. Coordenou a campanha de vacinação Sabin no Paraná, nos anos 80, para combater uma grave epidemia de poliomielite no estado, ela criou uma técnica para esse processo que, posteriormente, foi adotada pelo Ministério da Saúde e replicada por todo país. Foi indicada diversas vezes pelo governo brasileiro ao prêmio Nobel da Paz e morreu vítima do terremoto que assolou o Haiti em 2010, enquanto estava no país realizando trabalho humanitário.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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