Piora na qualidade de ensino desmotiva professores

Falta de segurança, más condições de trabalho e professores desmotivados estão entre as causas apontadas para a piora da qualidade no ensino público em São Paulo nos últimos anos. Os dados estão em relatório divulgado pela Apeoesp após consulta a 2.500 pessoas.

São Paulo – As escolas mantidas pelo governo de Geraldo Alckmin (PSDB) vêm piorando nos últimos anos. Essa é a opinião da maioria (75%) da população ouvida pelo Instituto de Pesquisas Locomotiva para avaliar a percepção da qualidade da educação nas escolas estaduais de São Paulo. A avaliação é compartilhada por grande parte dos professores entrevistados (75%), dos pais (60%) e dos estudantes (58%).

As entrevistas foram feitas entre os dias 1º e 11 de setembro nas cidades de São Paulo, Guarulhos, Bauru, Marília, Campinas, Sorocaba, Santos, Registro, São José dos Campos, Taubaté, Ribeirão Preto, Araraquara, São José do Rio Preto e Presidente Prudente. Foram ouvidas 649 pessoas das localidades, maiores de 18 anos, além de 600 pais e mães de alunos e 602 estudantes com 14 anos ou mais. E foram entrevistados, por telefone, 702 professores de 155 municípios de todas as regiões do estado.

A pesquisa foi encomendada pelo Sindicatos dos Professores do Ensino Oficial no Estado de São Paulo (Apeoesp).

Para os entrevistados, qualidade na educação é entendida principalmente como ensino de qualidade, professores preparados e qualificados, preparo para o mercado de trabalho e infraestrutura.

No entanto, as escolas estaduais paulistas apresentam problemas como falta de segurança – objeto de outra pesquisa da Apeoesp, divulgada na semana retrasada –, indisciplina, baixo aprendizado infraestrutura inadequada e baixa motivação dos professores.

Um dado que chama atenção na pesquisa sobre qualidade, divulgada na tarde de ontem (9), é que 90% dos pais, 89% da população geral, 78% dos estudantes e 87% dos professores se dizem contrária ao sistema de progressão continuada da maneira como é aplicada hoje. Dos pais ouvidos, 33% disseram que seus filhos já passaram de ano mesmo sem ter aprendido a matéria. A mesma resposta foi dada por 44% dos estudantes.

A pesquisa questionou se a valorização e motivação dos professores são fundamentais para uma educação de qualidade. Houve concordância de 94% dos pais, 92% da população em geral, 89% dos estudantes e 100% dos professores.

Para os entrevistados, a educação pública no Brasil está longe de ser de qualidade para 84% da população, para 82% dos professores e 68% dos pais e dos estudantes. É considerada de qualidade para apenas 2% dos estudantes e dos professores e para 1% dos pais e população em geral.

Entre as prioridades para melhoria da qualidade da educação pública em São Paulo, a melhora do salário dos professores foi destacada pela população em geral, pais e professores. Já os estudantes citaram a melhoria da infraestrutura física e o material didático.

Na avaliação do presidente do instituto Locomotiva, Renato Meirelles, os dados apontam para uma situação grave. “Poderíamos estar em uma situação ruim mas vir melhorando, mas não estamos. Isso é preocupante porque não se trata apenas de um problema do presente, e sim que terá consequências para as gerações futuras do estado mais rico da federação”, disse. O estado de São Paulo é governado pelas mesmas forças políticas desde o início dos anos 1990.

Meirelles chama atenção também para o fato de a progressão continuada – que da maneira que tem sido implementada por Alckmin, sem investimentos na qualidade do ensino – ter se tornado, na prática, um sistema de promoção automática, em que muitos estudantes são aprovados mesmo não tendo aprendido muitos conteúdos.

“Além da rejeição ao sistema, a pesquisa mostra que há muitas aulas vagas, que as classes estão superlotadas, que 71% dos professores acham inadequado o tempo que têm para preparar aulas, índice que era de 48% em 2013. Como os professores vão ficar motivados?”, questiona Meirelles.

A presidenta da Apeoesp, Maria Izabel de Azevedo Noronha, a Bebel, associa a crescente queda na qualidade de ensino à lógica do projeto do governo tucano de São Paulo.

“A situação é de abandono. Não pode faltar dinheiro para a educação. Em São Paulo convivemos com a realidade de professores dando até 64 aulas por semana para compensar os baixos salários, e lutamos entre outras coisas pelo fim dos contratos temporários, uma espécie de trabalho escravo, em que o professor não tem direito a nada. A escola, como espaço de ensino e aprendizado, não é o que reflete a realidade da rede estadual de ensino de São Paulo”, disse.

Fonte: Rede Brasil Atual

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