DESENTREVISTA – Segunda Temporada | Com Rogério Skylab e Gustavo Conde

Em “Injunções de Marx”, primeiro capítulo do emblemático livro de Jacques Derrida, “Espectros de Marx”, publicado pela primeira vez no Brasil em 1994 pela Relume-Dumará (um ano após a publicação original na França), há uma passagem ao final do capítulo que é bem sintomática do assunto que queremos tratar e que diz respeito aos atos performativos. É quando o médico legista declara a morte: “A forma constativa tende a tranqüilizar. A constatação é eficaz. Quer e deve ser com efeito. Trata-se, com efeito, de um performativo que procura certificar, mas, primeiramente certificando a si mesmo ao certificar-se, pois nada é menos certo do que isto, cuja morte desejaríamos, esteja de fato morto” (Derrida, 1994, pág. 71). É sobre o ameaçante retorno do passado no porvir, que as duas palestras de Derrida, em 22 e 23 de abril de 1993, na Universidade da Califórnia (Riverside), vão tratar, num simpósio cujo título é “Whither marxism?”. Não há como perder de vista esse contexto de 1993: crise financeira mundial e neoliberalismo; o controverso governo socialista de Mitterrand. Atrás de uma certeza – a morte do marxismo e o irreversível passado a que estaria condenado -, haveria, segundo Derrida, um fervilhamento de dúvidas. Como conjurar a ameaça do retorno? É como o ato performativo do médico-legista declarando a morte, sobretudo, pra se tranqüilizar. É como dizer: “o que se mantinha vivo, não vive mais e, portanto, não continua sendo eficaz na morte; podem ficar tranqüilos”. (Trecho de ensaio de Rogério Skylab sobre Derrida e Marx)

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Rogério Skylab é cantor, compositor, violonista, letrista, poeta, ensaísta, ator, ex-apresentador de televisão, ex-bancário e produtor de discos.

Gustavo Conde é jornalista, linguista e comunicador. Mestre em linguística pela Universidade Estadual de Campinas, ele trabalha com pesquisas sobre teorias do humor e sobre a história da representação do riso.

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