Tenho traços fortes indígenas e negros. Mas meu sobrenome é português. Não que não goste dele, pois me foi passado pelo meu avô e o tenho com muito carinho. Mas sinto que houve um apagamento em algum momento da história.
Por muito tempo não me reconhecia como negro e vejo que muitos, como eu, não se reconhecem negros apenas por serem um pouco mais claros ou por não ter o cabelo crespo. Mas passei por algumas coisas que só os negros passam e entendem. E hoje vejo que talvez nunca me foi ensinado a querer ser negro. A TV, a escola e todo o resto esconde nossos heróis. Era errado querer ser negro.
Trago no meu trabalho como artista visual e grafiteiro essas questões. Meu personagem principal, que chamo de “Sonho”, é inspirado no espírito Ubuntu, que foi muito propagado por Nelson Mandela. E o nome é inspirado no discurso “I have a dream” de Martin Luther King. Acredito que nosso protagonismo deve ser de forma natural. Sem ser taxativa. Mostrar que temos orgulho da nossa cor. Ainda que nosso país não tem.