Em fala no Senado, Dilma deverá economizar palavras duras sobre Temer

Fonte: Rede Brasil Atual

O Congresso tem movimento acima do normal nesta segunda-feira (25), pois muitos parlamentares anteciparam a volta de seus estados para acompanhar as conversas de bastidores sobre o processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff, cuja etapa final começa nesta semana. Entre assessores mais próximos, as informações são de que ela está serena, determinada na decisão que tomou de ir até o Senado para se defender e demonstrando tranquilidade para responder a questionamentos que podem vir a ser feitos em tom de provocação por alguns senadores.

Políticos ligados à presidenta contaram que neste final de semana ela conversou com amigos e assessores mais próximos sobre duas questões básicas. A primeira, o fato de estar muito bem preparada emocionalmente para enfrentar perguntas e ironias que devem ser feitas. E também sobre o tom do seu discurso, que deve repetir muito da carta encaminhada aos senadores na última semana.

Um dos temas discutidos foi a forma como ela deve abordar o governo interino de Michel Temer, que tem chamado de “traidor, ilegítimo e usurpador”. A presidenta não tem feito reservas ao tocar no tema, mas foi pedido a ela que modere um pouco o tom sobre como falar sobre o seu principal adversário, no dia da apresentação da defesa. Ficou acertado que o melhor é deixar que os próprios senadores mencionem a palavra “golpe” e as críticas à postura de Temer, ao menos durante a sessão que contará com a presença da presidenta.

Um assessor que trabalhou bem próximo de Dilma no Palácio do Planalto nos últimos cinco anos contou que o clima é de confiança no Palácio da Alvorada, sobretudo depois desses três meses em que a presidenta recebeu jornalistas do país e do exterior quase que diariamente. “Ela tem o mais importante, que é a segurança. E seus argumentos são bem fundamentados. É muito difícil que alguém consiga tirá-la do tom”, afirmou o assessor.

A presidenta afirmou, numa das suas últimas entrevistas, durante o final de semana, que não dá como certo o impeachment, embora se saiba em reservado que ela mesma já admitiu ver poucas chances de uma mudança no quadro. Mas seu discurso é de que “realisticamente, lutarei até o fim”.

Aliados mais otimistas, como Lindbergh Farias (PT-RJ) e Kátia Abreu (PMDB-TO), acham que a ida de Dilma ao Senado e a sua postura perante os senadores será decisiva para ajudar a manter votos hoje contrários ao impeachment. E, até reverter alguns votos – o que é considerado difícil por parte da base aliada do governo provisório de Michel Temer e até por alguns petistas.

Outro fator considerado positivo e relacionado à ida da presidenta afastada ao Congresso é a possibilidade de este gesto dirimir mágoas existentes entre petistas, que reclamaram nos últimos dias de que enquanto lutavam contra o afastamento, ela só se preocupava “com sua biografia”. Dilma, que foi alvo de rumores de que vinha se queixando por ter sido abandonada pelo PT nesta reta final do processo, negou as declarações e afirmou que os integrantes do partido, ao contrário, a procuram diariamente e vão todos os dias ao Palácio da Alvorada para conversas e reuniões sobre o processo.

“Engana-se quem acha que há um desânimo. A presidenta é forte e vai mostrar isso no dia da sua fala. Ela não esmorece e, como muitos já disseram, tem uma capacidade muito grande de crescer ainda mais nas adversidades”, elogiou uma das principais aliadas, a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM).

Fala da mesa do plenário

Conforme o rito acertado entre o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Ricardo Lewandowski,  que vai comandar a sessão, e os líderes partidários do Senado, os trabalhos se iniciam a partir de quinta-feira (25) e devem durar de quatro a cinco dias. A presidenta Dilma falará na segunda-feira (29).  Ela apresentará pessoalmente sua defesa, mas não vai discursar do púlpito do Senado.

Isso porque Dilma pediu, e foi atendida por Lewandowski, para falar da mesa diretora, ao lado do presidente do STF e do presidente do Congresso, Renan Calheiros (PMDB-AL). Ela terá 30 minutos para fazer o seu discurso – e poderá ser questionada por cada senador que se inscrever para esse fim, contanto que cada um fale por apenas cinco minutos.

Na noite de sexta-feira (19), Lewandowski divulgou sua decisão sobre pedidos feitos tanto pela oposição quanto pela defesa da presidenta. Em relação aos pedidos da acusação, ele atendeu ao primeiro requerimento, que pedia apenas um ajuste de texto na acusação, chamado de erro material. Mas ele negou o segundo pedido, de autoria do jurista Hélio Bicudo, um dos autores do processo de impeachment, que queria falar no plenário por meio de videoconferência.

O ministro não concedeu a videoconferência de Bicudo, que está doente e não pode ir a Brasília, mas autorizou que um depoimento gravado do jurista seja juntado aos autos do julgamento.

Lewandowski também indeferiu pedido da defesa para que fosse realizada, do plenário, uma acareação entre peritos que avaliaram os decretos de crédito suplementares apresentados pela presidenta afastada e também o plano de safra – uma vez que o entendimento de vários senadores foi de que, na opinião desses técnicos, não foram vistas irregularidades. Mas o presidente do STF considerou que essa fase do processo já está encerrada. Ele ainda homologou a desistência de uma testemunha de acusação e negou a impugnação de testemunhas de defesa que já tinha sido protocolada pela acusação.

Fator Renan Calheiros

A dúvida dos últimos dias, agora, diz respeito a como o presidente do Senado, Renan Calheiros, vai se manifestar. O peemedebista é conhecido por fazer jogo duplo em decisões de caráter polêmico e nunca escondeu suas diferenças com o presidente interino Michel Temer, que até o início do ano tinha como adversário na executiva nacional do partido. Ao mesmo tempo,  o alagoano diz em reservado e em reuniões sociais entre parlamentares ter simpatia por Dilma Rousseff.

É conhecida uma frase usada em tom de brincadeira entre deputados e senadores para definir sua relação com a presidenta afastada: “Dilma sabe que poderá contar com ele (Renan) sempre que precisar e que ele puder ajudar, mas que nunca terá certeza se, em casos extremos, ele será capaz de por ‘a mão no fogo para salvá-la’”.

Renan Calheiros, como presidente do Senado Federal e do Congresso Nacional, tem a prerrogativa de não votar na sessão do impeachment. Ele não teria mais argumentos para fazer isso, porque não é quem está comandando a sessão, mas preferiu não votar na pronúncia da denúncia, duas semanas atrás. Agora, há entendimentos diversos sobre o assunto.

Senadores contrários ao impeachment acham que Renan deve evitar votar para garantir, como presidente do Congresso, mais equilíbrio e poder de coordenar reuniões com todos os partidos após o julgamento do processo, nas próximas votações no Legislativo daqui por diante. Claro que o objetivo deste argumento também é para que ele não dê um voto a mais pelo afastamento da presidenta. E as conversações têm sido longas nesse sentido.

Já integrantes do PMDB estão pressionando para que Renan dê, sim, o seu voto na sessão do impeachment. Integrantes da articulação política do governo provisório chegaram a afirmar em reservado, no Palácio do Planalto, que acham que será considerado um processo natural ele votar desta vez e que isso não provocaria qualquer arranhão na imagem do Legislativo. O dono da bola, entretanto, ainda não disse sobre como se posicionará.

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