Pesquisadores da UFBA são ameaçados por movimentos conservadores

Fonte: Rede Brasil Atual

São Paulo – Professores e pesquisadores da Universidade Federal da Bahia (UFBA) têm relatado ameaças sofridas por meio de redes sociais. O teor das agressões inclui intenções de morte e teria relação com o conteúdo das pesquisas desenvolvidas pelos acadêmicos. Eles atuam no Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher (Neim), um centro de referência em ciências humanas da faculdade nordestina.

Os ataques ocorrem paralelamente ao que o reitor da UFBA e presidente do Conselho Universitário, João Carlos Salles Pires da Silva, chama de “iniciativas obscurantistas”. Neste sentido, uma aluna do mestrado da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas tentou ser impedida de apresentar sua tese por grupos conservadores, já que seu tema de pesquisa incluía questões de gênero.

Os nomes dos profissionais e da mestranda não foram divulgados por questão de segurança, mas a pesquisadora Carla Freitas se pronunciou via redes sociais. “Sim, fui eu a pessoa ameaçada na defesa da dissertação”, disse. “Não sei se quero contribuir com a euforia direitista, fascista e perversa que goza com essa visibilidade midiática que tá ganhando, e desse jeito dissemina a ideia de propagar o ódio contra nós”, completou, sobre sua decisão de não conversar com a imprensa.

“Informei as ameaças ao meu orientador, que tomou todas as providências junto ao meu programa de mestrado para que tudo ocorresse com tranquilidade”, disse. Em nota, a reitoria lamentou o episódio e a necessidade de tal medida de segurança. “Em episódios recentes, verificamos ameaças de morte e outros tipos de violência contra uma de nossas docentes, pesquisadora do Neim; a tentativa de impedimento de defesa de uma dissertação de mestrado de aluno do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências, tendo que solicitar a segurança da própria universidade.”

Carla argumenta que “não se deve ceder a esse clima de terror”. “Minha resistência é todo dia, minhas micropolíticas cotidianas são a melhor estratégia de sobrevivência. Eles não vão nos parar e eu não serei manchete de vítima de ameaças. Agora vejam, se o mestrado incomodou, imagina o doutorado”, afirma.

A universidade, representada pelo reitor, contextualizou as ameaças com a atual conjuntura. “Vimos também elas (iniciativas obscurantistas) se estendendo contra eventos científicos, práticas culturais, artísticas e intelectuais, por meio não apenas de ataques virtuais, mas também de cancelamento de exposições e censura à peça de teatro. Assistimos perplexos à tentativa de cerceamento e agressão à filósofa Judith Butler, que em 2015 acolhemos com tanta satisfação na UFBA”, disse, lembrando os ataques que aconteceram contra a pensadora em São Paulo, onde ministrou palestra no Sesc Pompeia.

“O clima de intolerância que se estabeleceu neste país vem repercutindo de forma drástica na liberdade de expressão, no livre exercício profissional e na autonomia universitária para tratar de temas relevantes concernentes a determinados segmentos sociais. As reações virulentas e ameaçadoras, particularmente no âmbito acadêmico, vêm tomando proporções assustadoras e desrespeitosas”, disse a reitoria.

Por fim, o Conselho Universitário da UFBA reitera o posicionamento da instituição “contrária às investidas reacionárias que buscam calar o livre debate de ideias e silenciar todo um campo de estudos legitimamente construídos e que é fundamental para que possamos ter uma sociedade menos violenta e desigual”. A iniciativa do posicionamento partiu da conselheira Maria Hilda Maqueiro Paraíso, diretora da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas.

Maria Hilda relatou ao periódico local Correio os impactos dos ataques. “Estamos sofrendo um movimento contrário à liberdade de expressão, de autonomia para tratar de assuntos relevantes na sociedade (…) Isso cria embaraços da ordem das relações interpessoais, dificultando o trabalho dos grupos de pesquisas e da liberdade em sala de aula.”

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