PUNK DE ESQUERDA? As Faces do Mao e o punk do ABC

Num pequeno palco, perante uma plateia ensandecida, um homem maduro e corpulento urra ao microfone a música Garoto Podre. Um corte seco e vemos esse mesmo homem comportadamente sentado numa cátedra universitária discorrendo sobre o modelo chinês de socialismo. Algumas sequências adiante, lá está ele falando a sindicalistas sobre solidariedade entre os trabalhadores. Afinal, quem é ou quantos são esses homens?

Seu nome é José Rodrigues Mao Júnior, professor de História, militante sindical e vocalista da banda punk Garotos Podres, surgida no ABC paulista em 1982. Punk de esquerda, sim senhor, com muito orgulho. Depois de um racha por conta de divergências políticas, venceu a ala “maoísta”, e hoje todos os componentes rezam pela mesma cartilha antifascista. Camisas de Lula Livre e bonés do MST integravam o figurino do grupo à época das filmagens.

Mao conjuga suas três faces de maneira descontraída e divertida. O filme de Dellani Lima e Lucas Barbi poderia ter ido mais fundo na investigação de como isso se dá na intimidade do personagem, mas de qualquer forma o perfil está delineado com boas linhas gerais. Ex-servidor público e filiado ao PT, doutor em História pela USP, Mao faz da música um grito contra a direita conservadora. Suas versões punk da Internacional, de Bella Ciao e de Grândola Vila Morena são impagáveis.

AS FACES DO MAO nos aproxima de uma figura carismática e ao mesmo tempo muito desafetada. E abre uma janela sobre o punk do ABC, terreno onde o heavy metal e os metalúrgicos possuem algo em comum. (Resenha d’As Faces de Mao’, por Carlos Alberto Mattos).

Convidados

Lucas Barbi é formado em Cinema pela Universidade Federal Fluminense, RJ, e especializado na École Nationale Superieur Louis Lumière, França, na habilitação Fotografia de Cinema. Ele também participou de masterclasses com Roger Deakins, Vilmos Zsigmond, Sean Bobbitt e Dante Spinotti no Festival Camerimage, Polônia. Em 2016 integrou o Berlinale Talent Campus, no Festival de Berlim.

Dellani Lima é cineasta, músico, artista visual e ator. Paraibano, de Campina Grande, tem formação em “Dramaturgia” e “Realização em Cinema e Televisão” pelo Instituto Dragão do Mar de Arte e Indústria Audiovisual do Ceará/UECE (1996-2000). Vive e trabalha em São Paulo e Belo Horizonte, onde realizou diversos projetos, inclusive ligados à música. Já produziu, dirigiu, roteirizou, atuou e montou dezenas de filmes, entre curtas e longas-metragens. Obras que já integraram mostras e festivais no Brasil e no exterior.

Carlos Alberto Mattos é jornalista, escritor, pesquisador e crítico de cinema desde 1978. Escreveu para Tribuna da Imprensa, IstoÉ, O Pasquim, Jornal do Brasil, Estadão, O Globo e editou o DocBlog, sobre a produção de documentários. Foi presidente da Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro e participou do júri da crítica nos festivais de Veneza, Berlim, Moscou e Amsterdã, entre outros. É autor de diversas obras, entre elas Sete Faces de Eduardo Coutinho (Boitempo/Itaú Cultural/IMS, 2019), Cinema de fato: anotações sobre documentário (Jaguatirica, 2016), Walter Lima Jr.: viver cinema (Casa da Palavra, 2002), Maurice Capovilla: a imagem crítica (Coleção Aplauso, Imprensa Oficial do Estado SP, 2006) e Vladimir Carvalho: pedras na lua e pelejas no planalto (Coleção Aplauso. Imprensa Oficial do Estado de SP, 2008). Edita o blog carmattos.

Gustavo Conde é jornalista, linguista e comunicador. Mestre em linguística pela Universidade Estadual de Campinas, ele trabalha com pesquisas sobre teorias do humor e sobre a história da representação do riso, além de ser colunista de política de vários veículos de mídia, como o Portal GGN, o Brasil 247 e o Le Monde Diplomatique Brasil. Conde também é professor de literatura, gramática e redação e ministrou vários cursos sobre técnicas de escrita, na graduação e pós-graduação, em universidades como a Unicamp, a Unasp, a Anhanguera dentre outras. As áreas do conhecimento que caracterizam sua pesquisa são: análise do discurso, psicanálise e semiótica.

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